junho 28, 2006

Passo a passo

A tarefa é árdua
As palavras impotentes
Passo a passo, de repente
Uma estrada, uma luz, um espaço
Sigo em frente, sozinho
Perto de mim o meu cansaço
Coração calado, coração carente
Coração selado, coração descrente
Dentro de mim me desfaço...
Passo a passo, de repente
Uma flor, uma jura, outro laço
Sigo em frente, caminho
Ao lado da vida
E seus pedaços.

Homo sapiens

Ouçam a voz de nossos dias
É a mesma de outrora
Os poetas declamaram a poesia
Os profetas anteviram o agora
O progresso hoje cria asas
O homem se revela sapiente
Então por quê nos falta casa?
Por quê de pão somos carentes?

junho 24, 2006

Cata-vento do amor


Pluma
rostinho de neném
bochecha rosada
olhinhos de chuva


fofura de flor
e felicidade

doçura

gira, gira
e flutua
cata-vento do amor!



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Publicado no Suplemento "A Cidade Criança", do Jornal A Cidade, de Ribeirão Preto - SP, 2004.
Ilustração: Semi Paterno - www.semipaterno.art.br

O mar


Pé ante pé
Daqui para lá
É preto no branco
Não tem dia a falhar

Areia, fubá
Papai e mamãe
Amigos, irmãos
E os filhinhos, quiçá

Parece que todos por cá
Acordam cedinho
Só pra ver o mar.




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Publicado no Suplemento "A Cidade Criança", do Jornal A Cidade, de Ribeirão Preto - SP, 2003.
Ilustração: Semi Paterno - www.semipaterno.art.br

junho 09, 2006

Soneto da casinha verde

Quando estavas aqui, te via de um jeito moleque
moleca que tu eras, de ar serelepe
de roupas alegres e meninice escaldante
bochecha rosada e olhos brilhantes.

Levavas no rosto um sorriso estampado
brincavas de roda de cabelo trançado
de pernas magras na areia macia
tocavas os que vinham com tua alegria.

Choravas baixinho, querias subir no telhado
parecias mais um menino a correr no cerrado
descalça com tuas sardinhas, a brincar por aí.

Eras a mais arteira, e a mais bonita
moravas numa casinha verde, esquisita
a mais pobre, a mais rica... a mais bela que já vi!


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Publicado na antologia "Contos e poemas do Brasil" - Ed. Casa do Novo Autor - SP, 2003.

Cosmopolita

Um ponto cosmopolita avista uma estrela no infinito
Traça um plano de risco
E dispara em linha reta
Cumpre sua órbita pitoresca...

"Em você, tudo aquilo que não sou
Em seu beijo, tudo aquilo que eu quero
Em nossas diferenças, o desejo se revela
Em toda parte do seu corpo
Cada norte que se entrega

Assim é o quadrado do inverso
O cateto de toda sofreguidão
Na simetria de nossos corpos
No compasso da emoção

O amor quase geométrico
Invade e se espalha, circunferente
Preenche os esquadros vazios
Nos cerca por todos os lados
E aos poucos se torna inerente!

E quando se está contido nesse abraço
Como parte de um todo
Ele escorrega pela tangente
Caleidoscopicamente
Como um polígono poligâmico
Um raio de fosco diâmetro no vácuo do adeus."

... E o ponto, plangente
Recolheu os cacos de sua engenhoca
Rabiscou outro castelo, numa inércia comovente
Seguiu para mais uma jornada
De estrondoso cômputo paralelo.

A cidade é Marte de um sonho
O coração, um triângulo obtuso
Que tenta se encaixar num carrossel de nuvens.


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2º lugar no Concurso "São Paulo Quatrocentona – A Palavra da Metrópole", publicado em antologia homônima da Editora Litteris – RJ, 2005, lançamento da 19ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo – 2006.

O editor Artur Rodrigues e eu, na Bienal 2006, em SP.
Foto: Gui Loffredo

junho 08, 2006

BEM DA VIDA

A energia vem do vento, a energia vem da chuva
Vem do fogo, vem do sol...
A energia, bem da vida
Caminha pelo fio, viaja pelo espaço
Até o mais fusco e distante paiol
Até o mais sozinho dos quintais...
A energia vem de longe e atravessa os pantanais.

É dádiva que o homem lapidou
Que aquece nosso banho e conserva o alimento
É bálsamo que encanta o dia-a-dia
É luz que ameniza o sofrimento.

No rádio, na TV, nos momentos de alegria
Nas ruas, nas escolas e nas vilas...
Nos hospitais, nas mãos que levam à cura
Em cada átomo, em cada fibra
Onde tudo se transforma, onde tudo se recria.

A energia é a própria vida!
Um raio de esperança que nos alivia
O sonho de criança que a magia propicia
A lâmpada que se acende no barraco e na mansão
No Nordeste, Sul ou Sudeste, onde haja escuridão.

A energia se propaga pelos campos e cerrados
Ilumina os caminhos apagados
É algo que se gasta, se desgasta
E que um dia pode se acabar...
Só depende de nossa consciência
O quanto mais ela irá durar.


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1º lugar no Concurso "Energizando a poesia", realizado pela SIGA - RJ - Serviço de Incentivo e Apoio ao Gerenciamento Ambiental, em parceria com a Eletrobrás - PROCEL - Programa de Combate ao Desperdício de Energia Elétrica, MinC (Lei Rouanet) e Rede Futura de TV (1999).